Todos nós já tivemos um(a) professor(a) no colégio que tentou nos convencer de que a matemática é divertida, seja através de musiquinhas ou trazendo informações mirabolantes. O livro ¿Hay sitio?, de Edu Flores, é a versão impressa desse tipo de aula.
Narrado a partir de um espaço que vai sendo ocupado alternadamente por diferentes formas geométricas, como os vários tipos de triângulo, rumo a um final apoteótico onde todas as formas se encontram e cantam juntos, ¿Hay sitio? opera em várias camadas, inclusive no tipo de humor. Há desde um humor mais pastelão a referências captadas por alunos mais velhos ou adultos. Apesar do afã didático do volume, ele preserva um tom de improvisação, como se tivesse sido escrito durante uma brincadeira na aula de matemática.
E também, apesar de didático, o livro não traz nenhuma mensagem moralizante de fundo; apesar de culminar com todas as formas geométricas cantando em harmonia. O resto da narrativa funciona, basicamente, através da repetição de uma gag: uma forma geométrica (ou família de formas, ou grupo de amigos de formas) ocupa o espaço até que chega uma nova forma, que se mostra chata ou apenas inconveniente. A forma anterior se retira, e aí chega a outra. A estrutura reiterativa funciona muito bem na literatura infantil, pois cria um sistema no qual o/a leitor(a) aguarda ansiosamente a reviravolta seguinte depois que compreendeu a estrutura em geral. Um exemplo disso é o sucesso brasileiro Jacaré Não!, de Antonio Prata e Talita Hoffmann.
Voltado para alunos do ensino fundamental, o livro também funciona para ser lido com acompanhamento a uma criança menor. No teste caseiro do crítico que assina esta resenha, muitas das piadas, como a de um triângulo falastrão, ou de arcos que latem até não poder mais, funcionam para que uma criança dê risada e memorize o nome de formas geométricas ao mesmo tempo.