Leitora: Margareth Santos
Data: 03/7/2021
Frequentemente, para uma criança (e para os adultos também), os fenômenos climáticos representam um misto de incompreensão, medo e fascínio: tempestades assombrosas, trovões ensurdecedores, arco-íris encantadores, nebulosidades plenas de instabilidade.
A partir desse mote, a autora Bea Taboada compõe uma obra muito sensível, em que relaciona tais fenômenos às emoções dos adultos, as quais se constituem, muitas vezes, como um mistério para as crianças (e para os adultos, obviamente).
Com ilustrações hilárias e incrivelmente expressivas em sua simplicidade de traço e cromatismo, A voltes la mare té el cap ple de trons (Às vezes minha mãe tem a cabeça cheia de trovões) elabora um paralelismo fértil entre a natureza circundante e seus efeitos sobre nós e as variações de humor humanas e suas consequências no convívio cotidiano.
Assim, no livro, a relação entre mãe e filha vai se configurando, primeiro, a partir da observação da menina a respeito dos comportamentos de sua mãe: quando apressada e distraída, nuvens tomam o lugar de sua cabeça, provocando atrasos, perdas de compromissos e etc.
No entanto, quando o sol brilha em sua face, a relação atinge a estratosfera e a diversão imaginativa e sideral está garantida, mas o sol também assegura uma boa folia na terra, quando os olhos arregalados de sua mãe transformam suas sobrancelhas em gaivotas.
Com essas variações de humor climáticas, a filha, pouco a pouco vai compreendendo as instabilidades dos dias e do convívio e, de maneira geral, são emoções com as quais compartilha e com as quais se identifica.
Assim, sutilmente, o processo de entendimento corre em paralelo ao espelhamento, posto que, ao final, a menina e todos nós nos vemos no mesmo barco das emoções: às vezes enfrentando e passando por trovoadas, às vezes
desfrutando de um dia ensolarado, ou ainda, seguindo, admirados um arco-íris apaziguador depois de uma tormenta.
Sem dúvida, trata-se de uma obra cálida, hábil e agradável, instrutiva sem ser didática, que aposta pela capacidade imaginativa e associativa de todos nós.