Resenhista: Livia Deorsola
Eu e você: o conto mais bonito do mundo, texto de Elisendra Roca e ilustrações de Guridi, é uma história que se conta ao pé do ouvido, feito um segredo. É a trajetória da chegada do irmão mais novo, tema recorrente na literatura infantil. Por ser comum, conclui-se que o assunto pode ser tratado de diversos modos, e o livro de Roca e Guridi o faz de forma direta, sem metáforas, mas não apressadamente. É narrado pelo irmão mais velho, que escreve uma espécie de carta ao pequeno, desde o momento em que este está para chegar até depois de seu nascimento, já interagindo e modificando a vida daquele que veio antes, alterando seu lugar no mundo de forma significativa.
A história é contada de forma linear, portanto. Abre-se com o diálogo em que os pais, felizes, vão oferecer ao filho o “presente mais bonito do mundo”. A dúvida, também comum, surge: de onde estaria vindo aquele bebê? Virá trazido por um carteiro ou pela cegonha? Mas a mãe já se encarrega de desvendar o breve mistério: a encomenda se encontra em sua barriga.
Na espera, tudo se enche de amor e o primeiro filho não sai do foco, recebendo todas as atenções, compartilhando com a família a boa novidade. Tudo é promessa. Então ele inicia um diálogo com aquele que virá, imagina-o, dirige-se a ele, desenha-o, ajuda na confecção do quartinho, na escolha das cores, do bercinho. A espera é doce e recheada de ilusões.
Por fim, chega o grande dia e o novo serzinho invade a casa. “Eu já te conhecia”, diz o irmão mais velho, que teve tempo de se habituar à ideia, afeiçoar-se a ela, criar na imaginação uma realidade ainda não concretizada, pura expectativa. E ele observa o novo integrante da família, aprende o significado de suas reações, cada choro, cada expressão, quando tem fome ou frio. Um pacto vai se estabelecendo, o irmão mais velho vai se tornando protetor e guia para todas as brincadeiras. E, no pacote, surge, claro, o ciúme e a insegurança: o ponto de conflito narrativo completa assim o quadro temático comum a esse tipo de abordagem na literatura infantil. A dupla é recorrente: irmão mais novo que chega + ciúme que aparece.
O sentimento não chega como algo cristalino, vai se formando dentro do irmão mais velho, que, sem saber nomeá-lo, recorre aos pais. Com ajuda, tudo vai encontrando seu lugar e o ciúme, se aplacando, até a declaração definitiva ao irmão recém-chegado: “Desde que você chegou,/ o amor se multiplicou./ Por isso agora eu também exclamo/ que eu também te amo”.
Como se vê, o tema da jornada do irmão mais velho que ganha um irmãozinho é recorrente e não traz muitas novidades. Neste caso, pode ser lida com a mediação de um adulto, que deve se incumbir de explicar os diversos sentimentos à criança – medo, entusiasmo, dúvidas, euforia, solidão, amor, além do ciúme –, fazendo as possíveis relações com a vida real, com os acontecimentos em curso, com a alteração da rotina familiar.
O chamariz do livro são mesmo as ilustrações, que mesclam diversas linguagens, com estampas, texturas, uso de giz de cera em diferentes cores e colagem de elementos. Ao final, há imagens de porta-retratos vazios que devem ser preenchidos com desenhos ou fotos da família, um chamado à interatividade. É um livro singelo e criativo ao mesmo tempo, talvez possa ser chamado de clássico, em termos temáticos.
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