El Violeta lança luz para uma questão importantíssima: a perseguição, encarceramento e assassinato de homossexuais pela ditadura franquista. Portanto, trata-se de uma obra imprescindível, corajosa e que, como veremos, segue vigente.
O espectro temporal da obra é largo: da ditadura franquista, nos anos cinquenta, até o final dos anos setenta, mais especificamente, 1979, quatro anos depois do ditador Francisco Franco, no período de plena democracia.
No entanto, a ideia de plena democracia é um dado histórico, sobretudo se pensarmos que a homossexualidade foi considerada delito no país até 1979 e mesmo com a Constituição Espanhola Democrática em vigor, os homossexuais continuavam sendo perseguidos e presos, simplesmente por sua orientação sexual. A lei vigente durante o franquismo, “Lei de vagabundos e meliantes e a Lei de periculosidade e reabilitação social” vigorou até 1979.
Mas o dado não é tão simples assim: mesmo após a não penalização da homossexualidade (a frase em si soa como uma aberração), não houve anistia para os presos por esse suposto delito até 1981 e em 1986 continuou sendo considerado como um delito contra “a honra” do exército. E, como se tudo isso não fosse pouco, os registros policiais daqueles que haviam sido fichados por “homossexualidade” só foram apagados ou destruídos em 2001, em pleno século vinte e um.
Diante desse quadro histórico de veleidades, condenações e omissões, não é de se estranhar que uma obra assim tenha sido publicada apenas em 2018, afinal, o tema continua sendo espinhoso para a sociedade espanhola e muitas outras, diga-se de passagem.
O próprio título do livro, “Violeta”, recupera um dos muitos termos usados durante o franquismo para referir-se de maneira preconceituosa aos homossexuais. Ao tomar essa denominação como estopim, a obra nos conta a história de Bruno, um rapaz de 18 anos e homossexual que, como tantos outros,
vive sua condição na clandestinidade até ser detido em uma armadilha da polícia franquista na sala do cinema Ruzafa, na cidade de Valência, lugar conhecido como reduto de gays na época.
A partir de sua prisão, o romance gráfico, de pegada underground, repleto de nuances escatológicas, vai acompanhando a vida de Bruno: sua detenção, com direito a tortura e violações físicas e psíquicas —e outras vexações—; a visão do esfacelamento de suas relações pessoais e de trabalho, até chegarmos à triste constatação das alternativas oferecidas aos homossexuais durante o franquismo: seguir com uma vida clandestina, partir para o exílio ou “reintegra-se” socialmente, o que significava negar publicamente sua condição e, frequentemente, submeter-se a casamentos de aparências. Essa será a alternativa de Bruno, que, pressionado pelo pai ausente até então, torna-se um policial repressor, casa-se e tem um filho.
A partir desse labirinto em que se insere o protagonista, pouco a pouco, o romance gráfico vai revelando aos leitores episódios pouco conhecidos e debatidos na sociedade espanhola, como o fato de que os homossexuais eram enviados a campos de concentração (Colônia Agrícola de Tefía, em Lanzarote), e de que também eram submetidos a “terapias” de eletrochoque, a fim de sanar seus “desvios” de conduta.
Apesar do tom árido e de suas pouquíssimas concessões, El Violeta é uma obra envolvente, com uma narrativa cortante e que aborda questões urgentes. Uma leitura bastante atual e que, ao sair do armário, nos possibilita compreender tanto um passado próximo como nosso presente instável.
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