Leitora: Livia Deorsola
“Atenção! Há monstros verdadeiros entre nós! Não se escondem no seu armário, nem debaixo da sua cama e não irão embora, mesmo que você os ofusque com uma lanterna. [...] Esses monstros provocam tormentas, secam lagos e afugentam os animais. [...] Os verdadeiros monstros ameaçam o nosso planeta, e só heróis como você podem derrotá-los!”
S.O.S. Monstros verdadeiros ameaçam o planeta pega carona em uma das figuras que mais povoam o imaginário infantil – os famigerados monstros – para falar de meio-ambiente e ecologia. No livro, Marie Rohde propõe um novo pacto a partir deste personagem: apresenta monstros verdadeiros, aqueles que de fato prejudicam e interferem na vida de crianças e adultos, comprometendo o futuro da humanidade. Assim, cada monstro ilustra um problema ambiental: poluição do ar, buraco na camada de ozônio, poluição das águas, chuva ácida, para citar apenas alguns exemplos.
A proposta vai muito além do didatismo sobre o tema: ao contrário, a autora conclama os leitores a agirem, a se prepararem para fazer a diferença. De modo que ela usa de estratégias de pura fabulação, aliadas a uma eficiente e bem-feita linguagem de almanaque, com ricas informações e matéria científica, sempre de olho na abordagem política e cidadã dos leitores. Divertidas e minuciosas, as ilustrações são cheias de detalhes, de cores, e transitam entre a caracterização dos personagens e a identificação de ícones e legendas.
Uma “Ficha do Monstro” traz o retrato, o nome, o ano do descobrimento, o habitat preferido (ar, terra, mar), o nome científico, as ações humanas que fortalecem o monstro, as ações que o enfraquecem e a escala de desastrômetro que cada um deles abrange. Traz, ainda, um guia com ícones que indicam, em cada caso, a forma de derrotar os monstros verdadeiros, com orientações como: “Respeite o seu entorno. Não esbanje recursos nem suje o planeta” ou “Mobilize-se: uma criança que protesta pode fazer muito para pressionar os políticos”, ou “Repense seus hábitos. Sua família pode reduzir, reutilizar e reciclar de maneira mais eficiente?”. Então surge outra aba com as ações que fortalecem o monstro: “O uso de combustíveis fósseis para gerar eletricidade”; “O ciclo de consumo: comprar e jogar muita coisa fora e rápido demais”; “Os incêndios florestais causados pela negligência dos humanos”.
Na fabulação, Rohde ainda consegue encaixar perfeitamente lendas de diversos povos antigos, de modo a revelar quais foram as inspirações antropológicas na criação dos personagens-monstros. Para cada monstro, um pequeno box ao pé da página conta a origem de suas representações, uma forma orgânica de falar também sobre as crenças de origens ancestrais. No caso dos dragões, a inspiração veio da fé dos vikings em que uma serpente-dragão devorava as raízes das árvores do mundo todo; ou da lenda chinesa de que esses bichos eram capazes de trazer chuva, e que a culpa das secas era dos dragões preguiçosos. O mistério do monstro do Lago Ness também dá as caras.
Vamos a alguns dos monstros. O Talaloco é um ogro capaz de cortar árvores e qualquer tipo de vegetação, contribuindo com a derrubada de florestas inteiras. “Quando apareço, as árvores caem e os animais perdem seu lar. [...] Arranco árvores, arruíno montanhas e altero o curso dos rios. Tenho muito trabalho para fazer!” Já o Tragaozônio é o mais temido de todos os monstros verdadeiros, pois vai mordiscando a deliciosa camada de ozônio. Caldosauro é o monstro do aquecimento global. Sem ele, a Terra estaria gelada, mas agora o perigo é a superalimentação desse monstro. O Quebracobra simboliza todas as ruas, estradas e rodovias que serpenteiam pelo mundo, prometendo viagens rápidas e confortáveis, mas que na verdade geram ruídos e contaminação do ar, além de não deixar a água da chuva se infiltrar no solo. O Urbanossauro, feito de todo o concreto armado que se encontra nas cidades, é inspirado em um lendário réptil africano que vivia nos pântanos, usado pelos adultos para assustar as crianças e assim evitar que elas se aproximassem dessas zonas. O monstro da poluição sonora Atronadón, pássaro de várias cabeças, é inspirado em uma lenda chinesa – acreditava-se que ele levava embora a alma das crianças: “Não deixarei ninguém escutar o canto dos pássaros nem falar tranquilamente pelas ruas. [...] Farei vocês perderem a concentração, a memória e os nervos”. Esmogodón, o monstro da poluição do ar: “Vocês podem me cortar, me empurrar e me perfurar, mas sempre saiu ileso”. Zamparestos, o monstro que se alimenta do desperdício de alimentos: “Fico feliz quando vocês deixam comida no prato. Um terço de todos os alimentos produzidos por ano termina diretamente no meu barrigão”. Octoplástico é um polvo maléfico que se alimenta do plástico jogado nos oceanos.
No fim do livro, há um mapa mundial indicando quais monstros estão concentrados em que países e quais são suas áreas favoritas. O mapa vem acompanhado de uma linha do tempo, com os marcos dos principais “feitos monstruosos”, como derramamento de óleo nos mares, a degradação intensa do solo, primeiros indícios da mudança climática, entre outros. Também há um glossário ilustrado que traz a explicação de termos como “ciclo do carbono”, “pegada ecológica”, “expansão urbana”, “crise climática”, “aquecimento global” etc.
Por fim, um novo chamado à ação: “Façamos algo agora para um futuro livre de monstros! Vamos ajudar os adultos a limpar este desastre”. O livro é indicado para crianças a partir dos 7 ou 8 anos, mas, na verdade, serve para todos nós.
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