Leitora: Margareth Santos
O primeiro impacto de Bajo las olas se configura sob o signo de um clichê: “uma imagem vale por mil palavras”.
Obviamente a conformação responde ao lado positivo e abrangente do clichê, uma vez que a obra é primorosa tanto no uso das imagens como em suas escassas palavras.
Sem dúvida, aqui, o clichê se converte num respeito à imaginação do leitor, pois o obriga a preencher as lacunas entre a imagem e a palavra. Em Bajo las olas a graça está em inventar, criar mundos e dimensões, e as ilustrações estimulam enormemente esses exercícios criativos, já que estão concatenadas de modo a tecer um clima de suspense e a instigar a curiosidade pela descoberta constante.
Tudo isso a partir de uma narrativa, aparentemente, simples: um menino, Martín, não consegue nadar sem sua boia e isso o impede de brincar com outras crianças, que puxam conversa, indagam pela necessidade do objeto, mas não compreendem a limitação de um menino já maiorzinho que não sabe nadar e que se vale do aparato.
No entanto, ao contrário do que se poderia pensar, a impossibilidade de interação, ao invés de prostrá-lo, provoca um movimento —em todos os sentidos— de busca pela aventura. Esse ânimo expressivo, leva Martín a uma viagem pelas profundezas do mar. Sozinho em meio à imensidão do mar, parte em uma jornada que pressupõe um mergulho imaginativo em seu interior. Nesse momento, os tons aquarelados e luminosos do início da narrativa vão adquirindo tons cada vez mais densos e profundos.
Submerso nessas profundezas espaciais e visuais, a figura do menino se transforma em um peixe que, curiosamente, incorpora e mimetiza as cores e formas de sua boia listrada, assim, ele se converte numa espécie de Nemo à caça de tesouros marítimos.
Após topar com alguns tesouros em seu intenso percurso, o chamado de sua mãe interrompe a aventura e faz com que o menino-Nemo retorne à superfície. Ali, a explicação para sua condição de criança atrelada à boia emerge e surpreende os demais meninos e o concilia com a curiosidade infantil alheia, provocando a aproximação de novos e futuros amigos.
Nesse momento e em tantos outros da obra, a máxima de uma imagem vale por mil palavras nunca foi tão coerente, sutil e delicada.