É sempre interessante quando um livro infantil parte de uma premissa aparentemente cotidiana para depois, de repente, revelar um assunto maior, mais profundo. Esse elemento surpresa mexe com os leitores, adultos ou crianças, de um modo singular. É o que ocorre neste ótimo El Museo Perdido.
Nos identificamos rapidamente com a narradora, que acaba de perder, de novo, um pertence seu – uma luva, no caso. Mas há algo diferente, pois ela afirma que finalmente descobriu para onde todas as coisas perdidas vão: o Museu Perdido. Uma vez lá, começamos a ser apresentados às salas desse equipamento cultural fascinante. Há uma dedicada aos cabelos de quem ficou careca, outra às garrafas d’água e peças de roupa menores (gorros, meias)... Mas então começa o ponto de virada. Primeiro, vemos a sala dedicada à paciência perdida, com objetos que geram esse sentimento: cubos mágicos, agulhas, fios enrolados e até minissalas de (eterna) espera. Depois passamos pelo Túnel do Tempo Perdido – uma seção com contagens do tempo que perdemos na internet, esperando pelo metrô ou pelo banheiro ocupado – e pelas salas de quem perdeu a cabeça, a conta, a vista, o ritmo ou mesmo a vergonha.
A narradora lembra que há coisas boas de se perder, como o medo; outras que nunca devem ser perdidas, como a esperança; e mais algumas em que todos saem perdem, como a guerra. O livro vai ainda mais fundo e passa a falar das perdas que são dolorosas – de pessoas que amamos, de animais de estimação –, e também das vezes em que perdemos o caminho por conta de alguma mudança, ou daquelas em que nos perdemos de vez. Não deixa de lembrar, porém, que há mudanças boas e coisas que nunca mudam, como o nascer do sol.
As ilustrações alternam pontos de vista – por vezes enxergamos as enormes salas em sua totalidade, outras nos aproximamos de vitrines com objetos ou adentramos seções menores. A mistura de técnicas de pintura (lápis de cor, canetinha, tinta) e os muitos traços de contorno que formam personagens, objetos e arquiteturas contribuem para a sensação de uma enorme diversidade de coisas num só lugar.
Um livro a um só tempo divertido e comovente, que propõe com sutileza reflexões importantes aos leitores, além de proporcionar empatia e identificação.