Luuume! é uma historieta em língua galega que parte de uma ideia simples (e genial, claro) para compreender os arroubos de intransigência infantil.
De modo que nada mais luminoso (desculpem o trocadilho barato) do que transformar um fósforo incendiado na metáfora dessa situação. Outro aspecto interessante dessa imagem se encontra no título do livro, cuja repetição da vogal “u” (Luuume) encarna a duração do capricho vívido de seu personagem principal.
O livro nos conta a história de Misto, um fósforo que não consegue controlar suas emoções e, cada vez que se sente contrariado, incendeia-se, o que provoca um movimento apaziguador de todos que estão a seu redor: sopram o fosforozinho virulento.
Assim, a mãe, “Pinza” e o pai Tapón (respectivamente, prendedor de roupa e rolha em galego), sua professora Novelo e seus amigos Resorte, Botón e Parafuso (respectivamente, novelo, mola, botão e parafuso) passam o dia soprando Misto a fim de “apagar” sua cólera, ditada pela ladainha repetida ao longo da obra: “Non quero e non quero!
Tanta teimosia vai se tornando insuportável e o pequeno Misto vai ficando cada vez mais só, esmaecendo-se em sua birra incendiaria. Tal solidão faz com que ele se dê conta de que algo deveria mudar e, pouco a pouco, em seus arrebatamentos diários, começa a imitar as personagens de seu entorno e passa a soprar para acalmar-se. O resultado é imediato, já que as chispas cessam.
Apesar do final parecer meio piegas: sem o fogaréu, filho, pai e mãe podem, por fim se abraçar, percebe-se um rastro de aconchego na cena. Assim, a obra nos apresenta de maneira simples, criativa e imaginativa uma proposta simpática para a contenção da intransigência infantil, tão corriqueira, não importa o tempo e lugar. Sem dúvida, as ilustrações cativantes de Laura Miranda Moreno imprimem cor e expressão admiráveis aos personagens e a seus movimentos.
Dito isso, gostaria de indicar algumas questões que o tradutor poderia ter em conta: o gênero dos objetos que encarnam as personagens da historieta, Pinza, Tapón, Novelo, Resorte obedecem a gêneros distintos em português. Talvez a professora seja de fácil solução, Professora Novelo soaria bem, mas, no caso dos outros, seria interessante pensar numa inversão de papéis, talvez. Questões importantes no momento da versão ao português.
Nesse item também está o nome da personagem principal, Misto (fósforo em galego), que parece evocar ideias como mistura (místico?) em suas distintas conotações, que reverberam ao longo da historieta. De modo que a palavra em galego para fósforo nos incita a pensar em algo ancestral: a feitura artesanal do fósforo, o “misto” que seria usado na fabricação do fósforo, ou seja, no qual se embeberia a cabeça do palito. Ideia que se perdeu com a industrialização. Assim, perder de vista o nome é perder um pouco a graça e tantas e possíveis referências.
Preocupações à parte, nada que atrapalhe esse livrinho primoroso, que trata com habilidade e astúcia um tema espinhoso sem cair no lugar comum.
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