Leitor: Rafael Falasco
O livro ilustrado La leyenda de don Fermín conta a história de um fidalgo medieval que foi visto pela última vez em cima de sua montaria, percorrendo distraidamente uma montanha. Ao virar a página, vemos que o cavalo voltou sozinho para o seu castelo e don Fermín nunca mais foi encontrado, visto pela última vez próximo de uma caverna.
Os habitantes começaram a imaginar histórias, possíveis fins para o cavaleiro: talvez tenha se perdido dentro da caverna, que deve ser profunda, ter curvas e buracos perigosos. Pode ser até mesmo que essa caverna seja um monstro gigante, que engoliu uma pobre vítima. Ou quem sabe ele foi emboscado por demônios que sumiram com ele? Alguns supõem que o fidalgo encontrou um grande tesouro e criou uma vida nova em terras distantes, outros que se tornou um fantasma e hoje assombra o palácio. Há até aqueles que acreditam que tudo foi uma invenção do próprio don Fermín, que está confortável e observando a comoção de longe. O livro se encerra com uma vista da entrada da caverna, que virou um ponto turístico graças ao misterioso desaparecimento.
Mais do que um livro que conta uma lenda, La leyenda de don Fermín narra como essas histórias são criadas. Da necessidade que temos de dar respostas ao inexplicável, de como as narrativas têm vida própria e como algo do acaso e até mesmo banal pode se tornar um ponto turístico séculos depois.
Ay, don Fermín
todos se preguntan
que será de ti
Na esteira de Yokai (2017), livro premiado do autor Manuel Marsol, texto e imagem dão as mãos para conduzir a narrativa. Ao trocar o tema do selvagem do livro anterior pelos elementos lendários, Marsol busca na tradição espanhola a sua inspiração para a história e para o traço que a acompanha. São cenas vistas de longe, panorâmicas, com imagens reproduzidas em folhas ricamente coloridas e recheadas de detalhes que abrem interpretações e impressões. Segundo o próprio autor, buscou referências culturais nas pinturas rupestres de Altamira, nas obras de Velásquez, Goya, Ribera ePicasso, assim como na arte românica e na arquitetura de Alhambra, além de elementos da cultura popular espanhola, como as cartas de baralho.
O resultado é um livro com imagens fortes e originais, relacionadas de forma silenciosa com o texto e que despertam curiosidade no leitor que é obrigado a viver o bom conflito que é ter vontade de desfrutar sem pressa sobre as ilustrações e, ao mesmo tempo, não ver a hora de virar a página para saber o que vai acontecer.
É uma obra que tem muito para contribuir com o mercado editorial brasileiro, já bastante familiarizado com os livros que amarram palavra e imagem. Apesar das raízes ibéricas do país, são escassas as publicações que resgatam esse passado estético em comum, com tons e formas diferentes daqueles encontrados nas narrativas francesas e alemãs, muito comuns em nossa literatura infantojuvenil. Além de abrir novas perspectivas visuais para seu leitor, seja ele do público infantojuvenil ou adulto, os detalhes de cada dupla de páginas oferecem ferramentas preciosas para exercer a imaginação e pensar as possibilidades.
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