Leitora: Margareth Santos
La Moneda, 11 septiembre é uma obra em que o esforço de precisão e o pormenor se unem para tentar apresentar ao leitor um episódio que muitos de nós conhecemos de maneira fragmentária e longínqua: o que aconteceu na data que dá título ao libro.
Em certa medida, mais do lado hispano-americano que do lado brasileiro, sabemos que no dia 11 de setembro de 1973 o exército chileno conspirou e decidiu depor o governo da Unidade Popular do presidente Salvador Allende. As fotos e os comentários da época sobre o cerco e o bombardeio à sede do governo, a Casa da Moeda; o discurso de Allende recusando-se a entregar-se; seu corpo inerte sendo retirado do edifício e a vaga ideia de que Pinochet era considerado, até aquele dia, como um militar leal ao governo, rodaram o mundo.
No entanto, se muitos de nós conhecemos esses episódios, nos falta o detalhe, a minúcia que nos leve a aproximar-nos do conteúdo dos fatos e é isso que nos propõe a obra de Francisco Aguilera: esquadrinhar, quase minuto a minuto, o que sucedeu naquele dia, para que possamos ter uma dimensão do que significou o golpe militar em sua organização e consequências.
Para conseguir essa proeza, Aguilar articula uma narrativa tecida por quatro vozes: um policial simpatizante de Allende, um garçom que trabalhava na Casa da Moeda e ali estava na data, um recruta adepto ao golpe e um bombeiro mobilizado para apagar o incêndio na sede do governo, causado pelos bombardeios.
A essas vozes se unem fragmentos que dão conta dos planos do golpe de estado, dos movimentos do exército chileno rebelado contra um governo legítimo e dos discursos e conversas de um Allende cercado e sem entender porque as forças leais ao governo não acudiram em sua defesa.
A pesar da obra não responder totalmente a essas questões, talvez porque seja de fato impossível, a narrativa recupera uma constante que se reproduz ao longo da história mundial e que talvez represente uma reflexão bastante atual: a ideia de os golpistas quase sempre se denominam salvadores da pátria e, como tais, atuam e afirmam estar “a favor do povo” e, claro, nunca em nome de seus próprios interesses. Bem, cada qual pode tirar suas conclusões e esse é o grande trunfo de La moneda, o respeito pelo leitor, além do afã pelo detalhe ao apresentar essa história, cujo resgate é fundamental nos tempos em que vivemos.
Mas a miudeza exibida não se traduz em uma narrativa enfadonha, ao contrário, o controle da peripécia é admirável e não se deixa seduzir por traços de romantismo barato ou por desejos de épica, embora não resista a retratar uma porção de anedotas, uma delas, digna de citação: Allende, reunido com sua escolta, o GAP (Grupo de Amigos Pessoais), ao saber da movimentação de tropas contra a Casa da Moeda e sem conseguir localizar o general Pinochet, teria comentado em tom desolado que o “pobre Pinochet devia estar preso”.
O lamento, muito mais do que apenas uma ironia do destino, se configura, também, como a expressão da solidão de um Allende que resistiria até o fim por acreditar que poderia virar o jogo, mas que, no final das contas, morreria praticamente sozinho.
Não por acaso, a obra termina com a imagem de um ataque do exército chileno que destrói uma das gárgulas da fachada da Casa da Moeda e incendeia a bandeira chilena, que cai ao chão e se desintegra. Simbolicamente, a narrativa se encerra com a impossibilidade de “afugentar os maus espíritos”, como as gárgulas eram popularmente conhecidas e com o arremate de uma ideia de nação. Depois disso, o Chile amargaria dezessete anos ao lado do “pobre” Pinochet.
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