Leitora: Livia Deorsola
A amorosa e muitas vezes complicada convivência entre irmãos de idades muito diferentes é o tema do livro Germans! [Imrãos!], de Rocio Bonilla (Barcelona, 1970, mãe de três filhos), graduada em belas artes com especialização em pedagogia. Por meio de desenhos leves e divertidos cujo ponto forte são as expressões faciais, a autora cria duas histórias que são, na verdade, duas versões; numa delas, o narrador é o irmão; na outra, a irmã. No volume, elas são apresentadas graficamente de modo inverso, ou seja, cada uma é colocada no começo, e não uma depois da outra, em sequência, obrigando o leitor a girar o livro para encontrar a primeira página. Em ambas, um dos irmãos assume a forma de um animalzinho, cujas características indicam o modo como o irmão humano o enxerga e se relaciona com ele. Para além desse recurso, tudo nas narrativas nos é familiar: as disputas, o ciúme, a diferença de interesses e necessidades, mas também o companheirismo, o carinho, o aprendizado através do outro, os vínculos de afeto e de memória. O livro acerta em não romantizar a vida vivida ao lado de outro ser com quem não escolhemos passar tantos anos nem dividir tantas frentes, de quem provavelmente seremos rivais no desempenho escolar, na peleja pela atenção dos pais, por brinquedos etc.; ao mesmo tempo que, não raro, ele pode se tornar um grande companheiro nas experiências mais afetuosas, e a pessoa com quem exercitaremos importantes funções psíquicas do amadurecimento, como a partilha, o respeito, a solidariedade.
No primeiro caso, a relação se dá entre uma irmã mais velha e seu irmãozinho, que, sob sua interpretação, ganha a forma de um macaquinho. A irmã dispara sem dó: “Eu não gosto do meu irmão”. Em seguida são mostradas situações cheias de humor, em que o irmão mais novo atrapalha todos os planos da mais velha e suas amigas, mexe em seus pertences, lhe faz caretas por trás das pernas da mãe, lhe dá sustos, faz bagunça e outras mil sapequices. Com o avançar da narrativa, no entanto, o leitor acompanha a modificação do olhar da menina para o irmão: ela o vai observando em momentos ternos e começa a se divertir com ele, até que percebe que, na ausência dele, a vida fica mais sem graça.
Na segunda narrativa, acompanhamos a dinâmica entre os irmãos desta vez pelo olhar do mais novo, um menino que enxerga a irmã mais velha como um... rinoceronte. A frase inicial é a mesma, categórica: “Eu não gosto da minha irmã”. Então seguem-se as cenas hilárias em que, no caminho de volta da escola, ela, responsável e chata, lhe arrasta pela mão até chegar em casa; em que ele quebra suas coisas e disputa outras (inclusive com querelas físicas); quer provar que pode fazer as mesmas coisas que a irmã e que é tão divertido e sabido quanto ela. E eis que o modo como ele a percebe também vai se modificando aos poucos; ele passa a admirar os talentos da irmã e a usufruir de sua proteção.
No fim de ambas as histórias, o desfecho é o mesmo: um terceiro irmãozinho está a caminho, para tirar ainda mais a paz dos mais velhos – e para ganhar o seu amor.
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