Afeto em contraponto
Ao escolher como protagonistas um urso e uma formiga, tendo como tema a aproximação entre eles, a amizade e o acolhimento, este livro tem como ponto forte as ilustrações. Com pouco texto, estruturado na repetição e na rima irregular, provavelmente agradará mais às crianças até 3 anos de idade.
O enredo abrange um tempo cronológico curto, com a entrada de um urso na caverna no início do inverno, a aproximação da formiga em busca de abrigo, cuja presença inicialmente imperceptível será revelada ao urso na medida em que ela percorre seu corpo e o pica. Ele passa da irritação à afeição e vai abrigá-la do frio.
Os desenhos são expressivos, atraentes, sugestivos e a qualidade da impressão é um ponto forte a ser considerado. É possível compreender a narrativa atendo-se somente a elas, o que é dá uma ideia de sua qualidade.
No final, quando eles se aproximam, uma das atividades que se enumera que realizarão juntos é a leitura, e a imagem do urso lendo, debruçado sobre o livro aberto, sobre cuja página a formiga faz pose, é uma simpática e sutil maneira de reforçar o incentivo à leitura.
O livro tem a estrutura de um paradidático, ao iniciar-se com um texto explicativo – dirigido a “Querido narrador/a” – sobre atividades de contação de histórias em torno da obra. Embora curto, é um texto abrangente que trata da origem do conto e apresenta várias estratégias para abordar o livro, incluindo brincadeiras, a questão da sonoridade e questões temáticas.
Para quem tem familiaridade com o trabalho com a literatura infantil, o texto pode parecer subestimar o leitor adulto, mas é um bom guia para o público que desconhece estratégias para contação de histórias ou atividades didáticas.
Embora a história englobe contrastes como “grande versus pequeno”, “branco versus preto/marrom”, esse material de apoio não se restringe a essa abordagem. Pontua o tema “forte versus frágil” relacionado à questão socioeconômica e à imigração.
No final, a obra traz a reprodução das páginas em miniatura com a tradução dos textos para o inglês, algo pouco frequente em livros infantis brasileiros, mas que se revela interessante, ao acrescentar a possibilidade de uso em atividades de ensino de língua estrangeira, ou acesso a leitores que não dominam o idioma da obra.
Recomendo a publicação em português.