Leitor: Rodrigo Petronio
Em um pequeno duplex ensolarado vivia dom Gregorio e o senhor Valentín. Valentín trabalhava em casa e Gregorio em um escritório imobiliário. A escolha de moradias para os clientes era toda sob medida promovida por Gregorio: pequenas pra quem fica só, grandes para famílias numerosas, próximo da rua pra quem tem vertigem com muitas portas para os sociáveis é muito bem isoladas para os tímidos. Aquele dia Gregorio cruzou a cidade inteira, passou por estradas por onde há tempos não passava para chegar à casa que deveria mostrar, situada do ouro lado do rio. Subiu ao terceiro andar e se deparou com a placa na porta verde: “Aqui vivia eu”. Enquanto esperava os interessados, seus passos ressoavam pelo piso. O que havia sido uma moradia familiar, agora parecia o lugar mais vazio do mundo. Queria se refugiar ali de modo que minguem mais pudesse entrar. Chegou ao antigo dormitório. “Onde você se meteu durante todos esses anos?”, perguntou o pequeno Gregorio desenhado na parede.
“Não percamos tempo! Anda. Vem comigo”. O desenho o tomou pela mão e o conduziu até à selva de Nunca Mais, percorreram mais de dez mil léguas do País das Maravilhas, chegaram ao castelo de As Nuvens, provocaram risos nas princesas tristes e aborreceram os três gatos de Dom Melitón. Remaram até a lua.
Quando estavam prestes a chegar onde cresce a flor de um dia, tocaram a campainha. O pequeno Gregorio voltou a seu esconderijo e o grande Gregorio abriu a porta anum casal que queria ver o encantador apartamento.
Os visitantes inspecionaram todo apartamento e quando se voltaram, Dom Gregorio havia desaparecido. Buscaram-no por todos os lados e não o encontraram. Acharam-no por fim na portaria do prédio. “Gostamos muito do apartamento e em breve seremos três”, a mulher acariciou a barriga que crescia sob o vestido. Poucas vezes um visitante tinha se decidido tão rápido. Um detalhe havia sido determinante. Tinham visto os desenhos atrás da porta. “Aqui vivia uma criança feliz”, concluíram. No quarto, o pequeno Gregorio abriu um enorme sorriso. Ao voltar para casa, Gregorio recordou de seus pais e de sua irmã. Percebeu que não são as paredes que fazem um lar. Agora o lar de Dom Gregorio era o senhor Valentín. “Como foi o dia?”, perguntou Valentin. “Estive com alguém que não via há muitos anos”, disse. “Alguém que eu quero que você conheça”. E nessa noite Gregorio e Valentín viveram muitas aventuras que aconteceram muito tempo antes de terem se conhecido.
Biografia
Dani Torrent, Barcelona 1974. Ilustrador, pintor e escritor, formou-se em História da Arte pela Universidade de Barcelona e em Ilustração na Escola de Design e Arte Llotja em Barcelona. Completou o treinamento acadêmico com estudos de direção de filmes. Cursou Doutorado em Belas Artes na Universidade de Barcelona. Mais informações na página do artista: http://www.danitorrent.com
Avaliação
Livro sensível e muito bem construído. Pode ser abordado a partir de questões de gênero, tendo em vista o suposto casal formado por Gregorio e Valentín. Aborda aspectos afetivos de preservação da memória e da infância como formas de acessar o imaginário e a criatividade. Essa memória afetiva também é importante para o desenvolvimento familiar e dos vínculos entre os familiares, sejam quais forem os conceitos de família que estejam em jogo.
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