Um livro inventivo, que remete a histórias clássicas como Chapeuzinho Vermelho, Os Três Porquinhos e O Lobo e os Sete Cabritinhos para falar sobre como lidamos com a diferença, sobretudo a das identidades horizontais – isto é, quando a prole não se identifica com seus progenitores, como se tivesse “caído longe da árvore” –, e também sobre outras formas de exercer a masculinidade, menos brutas e mais sensíveis.
Com uma premissa semelhante à famosa série Caras malvados, porém voltado a um público mais infantil, Feliz Feroz é a história de um lobinho que não era nada mau, muito pelo contrário. Sua mãe se preocupava com ele, pois parecia não ter a mesma vocação maléfica do restante da família: adorava estudar, sempre arrumava o quarto e inclusive andava ajudando velhinhas a atravessarem a rua.
Desesperada, ela liga para o tio do menino, que pede que ela mande o rapaz para passar um tempo com ele e assim poder lhe ensinar a ser um lobo mau “de verdade”. A história avança assim: o tio tenta ensinar o lobinho a devorar coelhos, mas o menino acaba sentado na relva comendo plantas junto deles; a se disfarçar para devorar vovozinhas, mas ele resolve tomar um chá junto com ela; a soprar forte a ponto de derrubar casas, porém, embora seu poderoso sopro deixe o tio animado, termina por usá-lo para fazer voar as pipas dos porquinhos; a afinar a voz comendo ovos crus e passar farinha nas patas para enganar os cabritinhos e comê-los, todavia, ao ver esses ingredientes diante de si, o lobinho não se aguenta e faz um bolo de cenoura.
Essa é a gota d’água, e o tio Lobo Mau está a ponto de ter um acesso de raiva quando o sobrinho enfia sem aviso um pedaço de bolo em sua bocarra. Sua expressão muda, e depois vemos ele ao telefone com sua irmã dizendo que tudo havia sido resolvido. Ao chegar lá, ela vê que seu filho abriu uma confeitaria – pois, segundo o tio, “ele prepara umas sobremesas que chegam a dar medo de tão gostosas” e são inclusive “muito melhores que as perdizes”. Como epílogo, algumas receitas do Lobinho Mau são ensinadas.
Feliz Feroz recebeu o Prêmio Cuatrogatos e esteve na prestigiosa seleção do catálogo White Ravens, da Biblioteca Internacional da Juventude de Munique.