Não é de hoje que as teorias da conspiração – antes restritas a um nicho à margem da sociedade ou a cantos obscuros da internet – passou a ocupar um espaço central na vida cotidiana das pessoas, afetando decisões políticas de grande escala (medicamentos ineficazes contra a Covid, por exemplo) e defendidas por celebridades que vemos o tempo todo nas telas (a atriz Jessica Biel propôs projeto de lei para tirar a obrigatoriedade de vacinar os filhos, por exemplo).
O tema, portanto, precisa ser encarado, analisado, rastreado, historicizado. É basicamente esta a proposta do livro em questão, no qual o jornalista espanhol Noel Ceballos reconstrói a narrativa das principais teorias da conspiração de impacto até hoje, muitas vezes procurando suas origens ou traçando seus desdobramentos atuais. O termo utilizado no título – conspiranoia – é central para o argumento do autor, que defende estarmos vivendo uma confluência entre a teoria da conspiração e a paranoia. Para ele, como o mundo moderno é inabarcável em sua complexidade, a população cada vez mais recorre a teorias que magicamente explicam o mundo, oferecendo um sentido fácil de compreender a um universo que parece não fazer mais sentido.
Escrito com leveza, muitas vezes incluindo anedotas pessoais, é um livro interessante pois, de certo modo, decentraliza a reflexão sobre o assunto. Todos sabemos que os Estados Unidos são os principais produtores de teoria da conspiração (e de cultura pop a respeito, como é o caso de Arquivo X, que recebe um capítulo especial no livro). Ceballos, apesar de ser obrigado a tratar desses focos estadunidenses, traz também diversos outros exemplos europeus, e muitas vezes rastreia origens de conspirações atuais para eventos que um estudioso norte-americano poderia ignorar, como o Caso Dreyfus francês, um marco na história do antissemitismo. Nesse afã decentralizador, sobra até para o Brasil, com um subcapítulo dedicado ao ex-ministro Ernesto Araújo.
Embora o livro não traga muitas novidades para os nerds que acompanham o assunto de perto, parece ser uma boa obra introdutória para refletir sobre um tema cada vez mais inescapável em nossa vida.