Diferentemente do que o título leva a supor, o livro de Obregón não é uma não ficção técnica, uma tese de doutorado ou um manifesto. Tampouco tem qualquer coisa de autoajuda, como o paratexto do livro já se apressa em apontar. O que o autor nos oferece é, por outro lado, memórias pessoais narradas com uma miríade de detalhes expondo as limitações da psiquiatria que é baseada apenas em diagnósticos frios extraídos do DSM-V, e oferecendo-se de exemplo pessoal para repensar o tratamento de doentes mentais.
Essa estratégia narrativa não surgiu do nada – dois ótimos livros anglófonos podem ser considerados pioneiros na tarefa: O demônio do meio-dia, de Andrew Solomon, que trata de depressão, e My Age of Anxiety, de Scott Stossel, que aborda o transtorno de ansiedade generalizado. Essas duas obras partem de sofrimentos pessoais dos autores para uma investigação maior a respeito da enfermidade em questão, muitas vezes entrevistando especialistas que divergem de opinião a respeito do tratamento.
Como disse, Contra el diagnóstico tem uma premissa similar, mas é menos focado em jornalismo (entrevistar especialistas ocasionais) e mais em um mergulho no eu. Obregón sofreu uma crise – psicótica? Lá vamos nós lidando com os diagnósticos – após a morte de seu pai, entrando em uma espiral de sofrimento que se espalhou para todos ao seu redor, o que o levou ao alcoolismo e a romper relações com a família, a esposa, os amigos. Recuperado da crise e questionando a série de tratamentos equivocados que recebeu de diversos psiquiatras, Obregón decide partir numa jornada de compreender sua enfermidade para além dos rótulos mentais, entrevistando todos que estavam próximos dele durante o período de ruptura.
O argumento central do livro não é um ataque à psiquiatria medicamentosa, de modo algum, mas uma defesa do estudo individualizado, caso a caso. Muitas vezes – como ocorreu com o autor – um diagnóstico impreciso, além de levar a uma medicação errada, condena o paciente a tratamentos crônicos vitalícios e a um estigma em uma sociedade que ainda não sabe lidar bem com a questão da saúde mental.
Tudo isso é tornado ainda mais interessante pela narração bem trabalhada do autor, cujo conhecimento de poesia clássica e contemporânea é transbordante – frequentemente, recorre a versos de Pavese, Pizarnik e outros para comunicar um sentimento que a linguagem não-literária parece incapaz de transmitir.
Obra recomendadíssima para todos interessados em saúde mental e pacientes que tiveram más experiências com médicos “fast food”.