Nacho Abad não está convencido da realidade. Ou digamos não lhe engana. Por isso, em vez de um romance, que é um gênero confortável e espaçoso que é chamado assim porque se trata de comunicar notícias, ele nos dá um livro de histórias que uma vez lidas persistem inteiras e nascentes porque em cada nova história, ele mistura a anterior. Em suas páginas, o escritor interpreta a metáfora da memória como posteridade, por exemplo, ou traz a colorida ideia de que se sentir único é coisa de todo mundo, uma vulgaridade. E com o fio dessa divagação ordinária, ele tece um artefato de cenas copulativas que é também uma armadilha, um enigma encontrado nas sombras da própria psicologia, no entorno do pensamento. Aqui está tudo o que Nacho Abad não explica mas que a sua escrita, furtiva, límpida, nos faz compreender, talvez sem o seu consentimento. Rubens Lardin.